Essa Tal de Poesia

22/11/08
Vamos falar de poesia.
Mas, sobre qual delas?
Sobre a poesia diária, na qual se esbarra quando abrem se portas, olhos e ouvidos?
Aquela que vive nas cores, nos sabores e odores e que nos chega pelos sentidos físicos?
Ou, sobre aquela poesia que se cria, que se pensa?
Aquela que se concebe no ruidoso silêncio
, no digerir interno dos tais poetas?
Pouco importa qual seja, tanto faz a natureza, falemos dela.
Vamos discursar.
Nos valer da inspiração que enche de sentido e significado o cotidiano, as banalidades e barbaridades da essência humana.
Vamos abusar das tonalidades e pintar de tons berrantes o que se faz pálido.
Vamos moldar o que é volátil e etéreo.
Vamos dar forma ao que é sensação nos valendo das palavras.
Mas talvez elas não bastem, não sejam suficientes.
Por que esses seres... os tais poetas
Esses que buscam na expressão
a tradução do impalpável
Costumam ser insaciáveis.
Para esses loucos e insensatos...
Para essas almas delirantes...
Tudo se faz motivo e forma.
Tudo se faz razão e meio.
Tudo se faz maneira e via.
Tudo se faz em poesia.

Sunday, April 25, 2010

Passiva

Passiva
28/02/84

Mais vinte e quatro horas
Somadas ao meu tempo.
Apenas uma adição
De tempo de vida
E uma subtração de tempo
Pra vida.
Mais algumas horas
Em que percorri ruas,
Esbarrei em pessoas,
Ouvi palavras,
Disse mais tantas.
Esse rio correndo
Contínuo e incansável.
Tempo passando.
Coisas mudando.
Eu... olhando.

Thursday, April 15, 2010

Veneno dos Sábios

Veneno dos Sábios

19/01/2010

Prefiro a mudez,
O silêncio de quem engole as palavras
Não por medo,  nem timidez.
Mas por cuidado.
Antes a boca fechada
Do que o pensamento posto à prova
E a expressão sendo revista.
Não receio a crítica.
Mas tenho horror ao pré-conceito
Dos que ouvem já negando o concordar.
Por isso, calo.
E se falo
Minha palavra não é afago.
Tem o peso e a medida
Do que acredito.
Não quero o beijo hipócrita
E o hálito doce e mortal
Que mascara a ignorância.
Quero o bafo que revela.
Quero sentir arder nos lábios
O veneno amargo e amoral
Dos sábios.

Monday, April 12, 2010

A Força

A Força
12/04/2010

Essa terra
Que me enterra os sonhos
Era meu chão e morada.
Hoje,
Diante do nada,
Me sobra o choro
E a dor solitária
De quem perdeu a tudo.
A vida se foi...
Foram os que me pertenciam,
Morreu o que mais amava.
Desceu sobre mim
A mão impiedosa
Da natureza que jamais perdoa.
Agora, por fim,
Me curvo.
Quem sou eu
Diante de sua força e vontade?

Friday, April 9, 2010

Metamorfose

Metamorfose

08/10/82

Insana,
Danço sem compasso.
Nesse som escasso
Nesse ritmo louco.
Desamarro os braços
Libero temores
Que ainda guardo em mim.
No balançar corpo,
No revirar cabeça,
No emaranhar cabelos,
No sentir coração,
Solto meus demônios...
Pareço cobra
Que se enrosca
Arma bote
E morde o vento.
Sou uma farsa.
Enorme garça
Que alça vôo,
Sem ter lugar
Onde pouse seu abandono.
Ando sem dono,
Sem nó, sem laço.
Estou entregue a natureza.
Armo defesa,
Rosno pro mundo,
Faço casulo,
Nasço outro bicho
E me evaporo.

Wednesday, April 7, 2010

Você

Você

11/08/88

O dia amanhece...
E o corpo que me aquece,
Tece, em minha mente,
Os limites de minha alma.
Ah, quanta paz!
Quanta calma!
Dentro, uma voz
Fala do meu corpo
E me integra.
Eu...me entrego.
Desejo profundo...
Não há nesse mundo
Momento mais rico:
Eu abdico
Do meu ser.
Pra ser...
Você.

Sunday, April 4, 2010

Medo

Medo

16/01/81

Existe um medo
Que me dilata a vista
Me resseca a boca
Me corrompe o peito
Me deixa assim.. sem jeito
De caminhar pra frente
De mostrar os dentes
E morder o mundo.
Existe um medo
E me reduz a pouco
Um pouco de esperança
Um pouco na lembrança...
Existe um medo
Que pousa em meu dorso
Suas asas pesadas.
Tenho em mim, cravadas...
 Garras afiadas
Que me lanham a coragem.
Me curvam a vontade
Subjulgam meu ser.
Existe um medo
Na minha atitude
Na minha renúncia
No meu pesadelo
Até na ousadia
De me assumir.
Um medo oculto
Na barra da calça
No bolso
Na alça
No canto dos olhos
Na trilha dos passos
Que sigo com medo
De alguma virada
Perder...