Essa Tal de Poesia

22/11/08
Vamos falar de poesia.
Mas, sobre qual delas?
Sobre a poesia diária, na qual se esbarra quando abrem se portas, olhos e ouvidos?
Aquela que vive nas cores, nos sabores e odores e que nos chega pelos sentidos físicos?
Ou, sobre aquela poesia que se cria, que se pensa?
Aquela que se concebe no ruidoso silêncio
, no digerir interno dos tais poetas?
Pouco importa qual seja, tanto faz a natureza, falemos dela.
Vamos discursar.
Nos valer da inspiração que enche de sentido e significado o cotidiano, as banalidades e barbaridades da essência humana.
Vamos abusar das tonalidades e pintar de tons berrantes o que se faz pálido.
Vamos moldar o que é volátil e etéreo.
Vamos dar forma ao que é sensação nos valendo das palavras.
Mas talvez elas não bastem, não sejam suficientes.
Por que esses seres... os tais poetas
Esses que buscam na expressão
a tradução do impalpável
Costumam ser insaciáveis.
Para esses loucos e insensatos...
Para essas almas delirantes...
Tudo se faz motivo e forma.
Tudo se faz razão e meio.
Tudo se faz maneira e via.
Tudo se faz em poesia.

Friday, February 26, 2010

Predador

Predador

24/10/88
Garras afiadas
Quero o lanho profundo.
Cicatriz eterna
Que não se esconde.
Se esquiva...
Não toco.
Mas roço de leve.
Momento breve
Em que sinto a caça
Sob meu julgo.
Na verdade
Apenas espreito a presa
Em sua liberdade.
Espero o descuido,
A aproximação.
Pra posse ser coisa do destino,
Pra não cometer o desatino
De afugentá-la.
Tão arisca!
Tão temerosa!
Aguça meus sentidos,
Tem ciência de meus anseios
Mas não recua,
Não bate em retirada.
Mal sabe ela
Que a distância que nos separa
É quase nada.

Thursday, February 25, 2010

Vôo Noturno

Vôo Noturno
08/12/82

A mão tateou o escuro,
Procurou, vasculhou,
Angustiosamente percorreu o espaço.
Procurava o imutável.
Aquilo que permanece
Não por estar obrigado,
Mas por nunca ter o instinto da mudança.
Viciosamente
Ela correu na direção do esperado
Com a convicção de o encontrar.
Havia a certeza de subordinação,
De resignação.
Mas desta vez...
Não estava lá.
Havia em seu lugar
Um vazio enorme
E uma incomoda desconfiança
De liberdade.

Wednesday, February 24, 2010

Ausência

Ausência
30/06/83

Tenho vontade de fechar os olhos
E me perder na embriaguez do sono.
Há um torpor no corpo
E uma alienação na mente.
Vontade de perambular no Mundo
E me desligar da vida.
Ser apenas um objeto andante
Pelas ruas, pelo espaço.
Cansaço dessa rota humana.
Desse dever crescer
E se responsabilizar por atos.
Quero ser errante e sem amarras.
Sem preconceitos, sem medos.
Um vácuo, um nada.
Total ausência...
Deixar de existir por um momento
Pra ver se realmente tem valor
Minha existência.

Wednesday, February 17, 2010

Alma Desgarrada

Alma Desgarrada
03/06/2009


Tenho medo da alma que cala.
Tenho medo dos segredos,
Das sombras e armadilhas
Da alma que se perde.
Da alma que à deriva,
Ilude que está viva
E se mutila em cada respiro.
Tenho medo... muito medo!
Essa alma desgarrada do caminho,
Afastada e desviada do rumo de todas almas,
Perde foco,  luz e brilho.
Fica opaca.
Alia-se ao medo.
Rende-se à covardia.
Abandona sua essência.
Afoga em mares profundos
A rebeldia que dá Voz e Alma
À Vida.

Tuesday, February 16, 2010

Ave Rara

Ave Rara

15/05/81


Era um João sem eira nem beira,
Um beiral de estrada.
Um ponto escuro
No muro obscuro da vida.
Um ser sem metas,
Passos sem setas.
Coisa sem fundo,
Oco, absurdo.
E caminhava pé ante pé
Pro abismo, pra ralé.
Mas João olhou em volta,
Viu castelos, multidões.
Se reconheceu irmão de nações,
Se concientizou de todas ambições,
E se debandou pra luta.
Foi ferido, ultrajado.
Pois os homens do outro lado,
Eram donos e senhores
Do Mundo.
E João que nada tinha
Pra se armar de covardia
E lutar com mesma força,
Se extinguiu.
Qual Ave Rara,
No céu negro
Do poder.

Monday, February 15, 2010

Certezas

 
Certezas
21/03/88
Quando meu olhar pousar no teu.
Talvez o silêncio que se instale
Me dê a resposta
A todas as indagações.
Ou me dê a confirmação,
De que a incerteza
É o único vínculo do amor
Com a realidade.

Wednesday, February 10, 2010

Doce Vinho

Doce Vinho.
11/06/83



Um copo me espera na mesa.
Um copo,
Talvez a certeza do esquecimento.
Preciso tirar desse copo
A sensação passageira de Paz.
Nesse copo:
Um gosto doce de vinho.
Molho a boca.
Sinto o gosto.
Doce vinho!
O doce desce a garganta.
Adoça o peito e a cabeça.
Por um absurdo momento,
No líqüido do copo
Eu me entendo.

Monday, February 8, 2010

Sutil

Sutil

18/12/08


Quando a palavra não basta
O silêncio expressa.
Quando o gesto não alcança
O olhar penetra,
E a emoção se revela.
Aprendi sutilezas.
Descobri nuances.
Tonalidades que nunca ousei,
Usei.
E tenho me refeito inteira.
E tenho sentido o frescor
De renascer.
Não reconheço mais os meus temores.
Me viciei em crer.
Tudo posso...
E muito quero.

Saturday, February 6, 2010

Adeus

Adeus

12/09/2008

Silêncio,
Minha alma pede descanso.
Meus olhos querem a calma
Do olhar interno.
Não quero as luzes que me cegam.
Quero a penumbra que acinzenta,
Que encobre as cores e esfria os sentidos.
Me deixem ir.
O cansaço da caminhada pesa em meus ombros.
Adormecem as pernas.
Os braços se estendem inertes.
As mãos e os pés são extensão da minha ausência.
Quero partir.
Me despedi do que me era amado
Com a certeza de o guardar comigo.
Não temo o que virá:
Desconhecido.
Não me incomoda o não saber.
Nem me dói o que não me seguirá.
Vou só,
Assim como vim.
Agora,
Não há mais palavras a serem ditas.
Tenho as páginas completas.
História longa, intensa e única.
Que me saibam ler!