Essa Tal de Poesia

22/11/08
Vamos falar de poesia.
Mas, sobre qual delas?
Sobre a poesia diária, na qual se esbarra quando abrem se portas, olhos e ouvidos?
Aquela que vive nas cores, nos sabores e odores e que nos chega pelos sentidos físicos?
Ou, sobre aquela poesia que se cria, que se pensa?
Aquela que se concebe no ruidoso silêncio
, no digerir interno dos tais poetas?
Pouco importa qual seja, tanto faz a natureza, falemos dela.
Vamos discursar.
Nos valer da inspiração que enche de sentido e significado o cotidiano, as banalidades e barbaridades da essência humana.
Vamos abusar das tonalidades e pintar de tons berrantes o que se faz pálido.
Vamos moldar o que é volátil e etéreo.
Vamos dar forma ao que é sensação nos valendo das palavras.
Mas talvez elas não bastem, não sejam suficientes.
Por que esses seres... os tais poetas
Esses que buscam na expressão
a tradução do impalpável
Costumam ser insaciáveis.
Para esses loucos e insensatos...
Para essas almas delirantes...
Tudo se faz motivo e forma.
Tudo se faz razão e meio.
Tudo se faz maneira e via.
Tudo se faz em poesia.

Sunday, March 21, 2010

Procura

Procura

08/03/85

Eu vasculho os quatro cantos do mundo
E não encontro esses olhos.
Os olhos de quem procuro e chamo.
Reviro os guardados
E não encontro registro de sua existência.
E por que a latente emoção de saber que está vivo?
Saber que a essas horas
Passeia pelas ruas
E que intimamente,
Insistentemente,
Procura meus olhos?

Saturday, March 20, 2010

31/03/84

No silêncio dessa sala
No silêncio de minha alma
Brota um som surdo e insistente
De um coração que não cala.
Uma dor,
Um nó no peito.
Um seguir meio sem jeito.
Medo do passo seguinte
Medo de ter ouvinte
Pras palavras que me escapam.
Estou só,
E não há como repartir esse momento.

Friday, March 19, 2010

Ciranda

Ciranda
19/04/84

Finge que sabe do ar
E alça teu vôo.
Liberta teu caminhar,
Se furta,
Se deixa levar.
Finge que entende
E mente sobre se enganar.
Inventa uma estória,
Conta piadas,
Se faça alegrar.
Porque o sol amanhã
Vai nascer e se por
Como em todos os dias.
Tudo é rotina
E nada atina
Pro descompassar.
Vem... muda o curso
Acelera o pulso
Vamos cirandar.
Porque tudo é festa
Se a mente elabora
Canções pra dançar.

Monday, March 8, 2010

Preciso...

Preciso...
06/02/2010


Preciso prestar mais atenção.
Tirar de cada momento sua essência única.
Olhar mais nos olhos
E descobrir boas almas.
Estar mais presente.
Preciso ancorar,
Pisar terras firmes,
Aparar as asas
E calar essa ânsia
De novidade.
Preciso ser menos covarde,
Arriscar, pagar pra ver,
Dar a cara a tapa.
Preciso sair desse tanto faz
E fazer valer minhas vontades.
Preciso me dar um tempo.
Um tempo pra me ver de perto,
Parar de correr sem rumo,
Acalmar essa urgência
Que me rouba os detalhes.
Preciso tomar posse do que é meu por direito,
Dar valor às minhas conquistas.
Preciso aprender a perder
Para ganhar o que me é importante.
Preciso parar...
Para seguir adiante.

Friday, March 5, 2010

N'outra Paisagem

N'outra Paisagem
18/06/90

Eu te olho nos olhos
E não vejo a imagem
Do que avistas.
Não é possível que mintas.
Tinhas de mim tanto afago,
Tanto fogo,
Tanta guarita.
E agora me irrita
Com o jeito vago
De quem não liga.
Passo a mão por teus cabelos,
Sinto um frio na espinha.
Não és minha
Criatura liberta dos meus encantos.
Pego a bolsa.
Bato a porta.
Vou àquilo que importa.
Andar firme e felino.
Pro destino.
Vou fazer nova viagem
Me infiltrar n'outra paisagem.
Ver se caço,
Ver se laço
Outro menino.

Wednesday, March 3, 2010

Por nada...

Por nada...

28/05/09

“Quantos de nossos esforços são oferendas ao nada?”
Quantas milhares de vezes:
Lágrimas em vão,
Sofrimentos que perdem o sentido,
Sentimentos que perdem o motivo?
E não sabemos... porquê.
Somos pegos,
Espada em riste
Em lutas que não terminam.
Matando o pouco tempo que temos,
Sufocando em gritos
Uma ânsia de paz
E um desejo de ser
Banalmente feliz.
Ah! Mas precisamos mostrar
Quão guerreiros nós somos!
Darmos nosso sangue e suor,
Heróicos e destemidos!
Mesmo sabendo que após a longa guerra,
Quando nos despirmos das armas,
Não contaremos conquistas,
Nem sentiremos vitórias.

Tuesday, March 2, 2010

Igual, Igual

Igual, Igual
12/09/84

E quem quiser saber de mim...
É só olhar pela janela o tempo passar.
Eu sou a constância monótona
Do tic-tac do relógio.
O previsível alternar
Do alvorecer e anoitecer.
O imutável e fatal
Crescer e morrer de cada ser.
Sou tal e qual
O rotineiro acender e apagar da luz da rua.
Uma coisa assim:
Que nunca muda.
Uma vida assim:
Que se repete.
E nunca é nada diferente.
E nada troca sua ordem.
É tudo assim:
Igual, igual.