Essa Tal de Poesia

22/11/08
Vamos falar de poesia.
Mas, sobre qual delas?
Sobre a poesia diária, na qual se esbarra quando abrem se portas, olhos e ouvidos?
Aquela que vive nas cores, nos sabores e odores e que nos chega pelos sentidos físicos?
Ou, sobre aquela poesia que se cria, que se pensa?
Aquela que se concebe no ruidoso silêncio
, no digerir interno dos tais poetas?
Pouco importa qual seja, tanto faz a natureza, falemos dela.
Vamos discursar.
Nos valer da inspiração que enche de sentido e significado o cotidiano, as banalidades e barbaridades da essência humana.
Vamos abusar das tonalidades e pintar de tons berrantes o que se faz pálido.
Vamos moldar o que é volátil e etéreo.
Vamos dar forma ao que é sensação nos valendo das palavras.
Mas talvez elas não bastem, não sejam suficientes.
Por que esses seres... os tais poetas
Esses que buscam na expressão
a tradução do impalpável
Costumam ser insaciáveis.
Para esses loucos e insensatos...
Para essas almas delirantes...
Tudo se faz motivo e forma.
Tudo se faz razão e meio.
Tudo se faz maneira e via.
Tudo se faz em poesia.

Thursday, August 26, 2010

Caçada

Caçada
15/09/88


Uivo,
Loba que sou.
Deserta,
Na paisagem incerta
Desse despenhadeiro.
Olho o vale lá embaixo
E tomo ciência da solidão que me cerca.
Meu grito percorre todos os espaços,
Penetra em todas as pedras,
Se deixa levar na correnteza dos rios.
Loba-mulher,
Num cio crescente,
No desejo profundo de companhia.
Perambulo.
Espreito a caça.
Farejo no mundo o meu sentido.
Trago nos dentes
O resto da carne de outro dia.
O alimento que me saciou a fome.
E na alma,
A ausência do encontro,
Do descanso há muito sonhado,
Da unidade perseguida,
Da vida...
Ah! Da vida...